Panorama global: o que é Sourdough 2.0
O Sourdough 2.0 é a evolução do levain que integra fermentações cruzadas — a prática de adicionar ao ecossistema do fermento natural ingredientes já fermentados ou ricos em microbiota/açúcares. Em padarias de referência pelo mundo, vemos levains dialogando com kimchi, kombucha, missô/shoyu, kefir, iogurtes vivos e até polpa de cacau fermentado.
O objetivo não é “temperar” a massa, e sim construir sinergias microbianas que elevam aroma, acidez, umami, textura e performance de conservação.
Por que isso importa agora
- Sabor & assinatura: perfis aromáticos inéditos, mais profundos e memoráveis.
- Digestibilidade & bem-estar: processos longos e cruzados tendem a reduzir compostos fermentáveis e aumentar biodisponibilidade de nutrientes.
- Narrativa de produto: cada pão passa a contar uma história de cultura e território.
Exemplos globais que já “pegaram”
- Kimchi levain: acidez vibrante, picância e complexidade vegetal.
- Levain com kombucha reduzida: crosta caramelizada e leve efervescência.
- Levain de missô/shoyu artesanal: umami, coloração dourada intensa e salinidade equilibrada.
- Pão de cacau fermentado: notas frutadas e acidez elegante.
Framework universal (para começar)
Comece pequeno e mensure:
- Escolha 1 insumo vivo de alto valor sensorial.
- Substitua 5–15% do líquido (massa ou alimentação).
- Monitore hidratação, tempo e pH (se possível).
- Ajuste sal/tempo (açúcares aceleram a fermentação).
- Documente: temperatura, horas, aroma, miolo/crosta.
Do globo ao Brasil: Sourdough 2.0 com identidade local
Se globalmente o 2.0 une técnica e diversidade microbiana, no Brasil ele encontra um celeiro de ingredientes e histórias. É aqui que entra a minissérie especial produzida pela Puratos, com Johannes Roos e o fermento Vitus, viajando pelo país para traduzir território em pão.
PARTE I — Rio de Janeiro & Goiás
Rio de Janeiro — Água de coco no levain
Ideia: substituir parte da água de alimentação do levain por água de coco fresca, convocando açúcares naturais e a microbiota do ambiente da Casa Carandaí (Jardim Botânico).
Como fazer: troque 10–30% da água por água de coco (observe que acelera a fermentação).
Resultado sensorial: crosta crocante, miolo elástico, acidez elegante e notas de cereal tostado.
Delicioso, com acidez importante e crocância perfeita.
Goiás — Pequi fermentado na massa (pizza regional)
Ideia: fermentar lascas de pequi em água e usar esse líquido na hidratação do Vitus; aplicação em pizza de frango com pequi (Francisco Casa de Pães).
Como fazer: use 5–10% do líquido total provenientes do pequi fermentado; ajuste o sal (perfil marcante).
Resultado sensorial: aroma único, frutado/oleoso, presença marcante que traduz o cerrado no produto.
Mais que técnica: cultura e identidade
O Sourdough 2.0 é método e narrativa. No Rio, a água de coco agrega frescor e leveza ao levain; em Goiás, o pequi imprime força e identidade — inclusive em pizza. Quando técnica encontra território, o pão deixa de ser só alimento e vira memória comestível.
FAQ (SEO)
O que é Sourdough 2.0?
A evolução do levain que integra fermentações cruzadas (insumos já fermentados ou ricos em microbiota/açúcares), ampliando sabor, digestibilidade e identidade cultural.
Posso usar água de coco no levain?
Sim. Troque 10–30% da água e monitore o tempo, pois acelera a fermentação.
O pequi não domina o sabor?
Use 5–10% do líquido e ajuste o sal. O equilíbrio vem do teste sensorial.
Fermentações cruzadas enfraquecem o levain?
Não, desde que feitas em pequenas proporções e com registro de processo.
Por que adotar na padaria?
Entrega assinatura sensorial, melhora textura/conservação e cria história de produto.
Créditos: Série com Johannes Roos (Puratos) e Vitus.
Próximo capítulo (Parte II): Pernambuco & Foz do Iguaçu — do caldo de cana à cuca de tereré.