Assistir ao segundo episódio da nova temporada do Massa Madre Talks, com o Chef Ricardo Arriel, foi mais do que acompanhar uma conversa sobre panificação. Foi mergulhar em uma jornada de vida, cheia de aprendizados sobre negócios, propósito e transformação.
Arriel não fala apenas sobre pão — ele fala sobre pessoas, sobre futuro e sobre como o ofício pode mudar destinos.
Panificação: do subemprego à valorização
No episódio, um ponto chama a atenção: no Brasil, ser padeiro ainda é visto por muitos como um “subemprego”.
- Arriel contou que entrou nesse mundo por acidente, após uma lesão que o tirou do futebol.
- Limpando assadeiras no fundo da padaria da madrinha, descobriu que ali havia não apenas um trabalho, mas uma oportunidade de vida.
- Na Europa, a realidade é outra: a panificação é herança cultural, orgulho familiar e símbolo de prestígio. Lá, não se vende apenas pão — vende-se história.
Essa diferença cultural é um alerta: precisamos mudar a forma como enxergamos a panificação no Brasil.
Pão como meio de transformação
Um dos aprendizados mais fortes do episódio é que pão é meio, não fim. Para Arriel:
- O pão é ferramenta que conecta pessoas e gera oportunidades.
- “Mesa cura”, disse ele — é em volta dela que celebramos conquistas, fechamos negócios e criamos memórias.
- O ofício, portanto, não é apenas técnica: é impacto social e humano.
O negócio da panificação
Outro ponto fundamental do episódio foi a visão de Arriel sobre panificação como negócio. Muitos padeiros caem na armadilha de pensar apenas na produção, esquecendo que o verdadeiro desafio é gerir:
- Pessoas
- Processos
- Finanças
Ele mesmo viveu essa realidade ao abrir sua primeira confeitaria, quando percebeu que havia se tornado um “empresidiário”: preso ao próprio negócio, sem clareza de propósito e sem autonomia. Foi no fracasso que aprendeu: um negócio precisa ser maior do que o ego do seu fundador.
Ego e liderança
Ego foi outro tema forte da conversa. Quantos empresários não resistem em delegar por medo de perder protagonismo?
- Arriel afirma que, para crescer, é preciso formar pessoas melhores do que você.
- Hoje, seus padeiros fazem pães “dez vezes melhores” que os seus — e isso é motivo de orgulho.
- O papel dele mudou: agora é liderar, inspirar e criar processos que sustentem o crescimento.
Valor além do preço
Enquanto muitos ainda disputam preço em um “oceano vermelho” de concorrência, Arriel aposta em criar valor. Inspirado pela Europa, ele mostrou que cada detalhe importa:
- A arquitetura do espaço
- A forma como o produto é apresentado
- A história que acompanha cada pão
O cliente não compra só alimento — compra experiência.
Os quatro “P” dos negócios
O episódio foi quase uma aula de gestão disfarçada de bate-papo. Arriel resumiu o sucesso em quatro pilares:
- Processos
- Pessoas
- Produto
- Performance
Porque, no fim das contas, não basta ter boas ideias: o que mantém um negócio vivo é a capacidade de entregar resultados consistentes, dia após dia.
Um caminho para o futuro
Saí desse episódio com uma sensação clara: o futuro da panificação no Brasil depende de uma virada cultural. Precisamos:
- Deixar de tratar o ofício como algo menor.
- Reconhecê-lo como instrumento de transformação econômica e social.
- Aprender com a Europa que cada pão conta uma história — e que vender pão é, também, vender valores e memórias.
Ricardo Arriel nos mostra, com seus mais de 20 anos de trajetória, que panificação não é só farinha, água e fermento. É disciplina, estratégia, liderança e, acima de tudo, propósito. Se ele conseguiu sair de auxiliar em uma pequena cidade para comandar negócios milionários e ensinar empresários pelo Brasil todo, foi porque acreditou que o pão podia levá-lo muito além da padaria.
O pão pode ser o começo, mas o destino é você quem escolhe.