Publicidade

Home >

Artigos >

Passando a ficha (técnica) a limpo!

Autor
Pedro Marchi
5 de fevereiro de 2020

Passando a ficha (técnica) a limpo!

No último artigo do ano vamos rever tudo aquilo que discutimos de maneira breve nos anteriores e tratar daquilo que os amarra: a ficha técnica! Mas, afinal, o que a caracteriza?

A resposta é simples: fichas técnicas nada mais são que ferramentas de gestão que têm como função parametrizar e/ou padronizar um processo de produção, gestão ou finalização de produto, ou seja, estas ferramentas devem estar ativas dentro dos estabelecimentos para que possamos oferecer o padrão da casa com o máximo de constância e consistência ao nosso comensal.

Bem, vamos por partes, então. Como separamos as fichas técnicas?

  • Fichas de produção ficam dentro da área manipulação de insumos e são conhecidas no meio como as receitas.
  • Fichas que têem como objetivo a gestão e precificação geralmente estão nos setores competentes do estabelecimento e são operadas por um número restrito de pessoas, afinal trata-se de uma informação de teor sensível pois mexemos diretamente com o custeio e a precificação do produto.
  • Fichas de finalização geralmente são encontradas em áreas de expedição e controle de qualidade.

Todas citadas acima são de suma importância, mas não vou falar de fichas para produção e finalização neste artigo. Vou focar em fichas que têm como objetivo auxiliar a gestão do seu estabelecimento, logo, vamos atacar a relação entre custo, insumo e preço de venda.

Porém, antes de começarmos deixo expresso que os modelos abaixo funcionam para mim como gestor e que fórmulas e maneiras diferentes existem por este mundão afora. Dito isso vamos lá.

Componentes da ficha

Compor uma ficha técnica é uma tarefa árdua e até mesmo maçante, mas não tão complicada como se imagina. Vamos pensar de maneira objetiva, o que precisamos enxergar para conseguir controlar o custo e precificar nosso produto?

Logo aparecerá uma resposta com pelo menos estes três indicativos.

  • Nome do insumo;
  • Quantidade necessária;
  • Valor por unidade de compra.

Concordo com todas as respostas dadas acima, porém, não foi considerado um fator muito importante: a mão do cozinheiro, padeiro ou confeiteiro que executará o preparo na linha de produção.

Aqui da minha tela consigo ver as interrogações surgindo, então vamos ao que precisamos fazer para conseguir contabilizar o fator humano da receita de maneira matemática. Vamos acrescentar um item novo à resposta e multiplicar outro, observem e assim temos os seguintes indicativos;

  • Nome do insumo;
  • Quantidade líquida necessária;
  • Fator de correção;
  • Quantidade bruta necessária;
  • Valor por unidade de compra.

O Fator de Correção

Alguns já devem ter começado a entender onde pretendo chegar, mas vamos por partes para entendermos o que acrescentamos ao mix e variantes dentro da ferramenta.

  • Quantidade líquida necessária: refere-se ao insumo pronto para ser utilizado na receita, geralmente fornecido nas receitas de cozinheiros, padeiros, confeiteiros e consultores.
  • Quantidade bruta necessária: refere-se ao insumo sem manipulação que deve ser preparado para ser utilizado na receita.
  • Fator de correção: refere-se ao índice matemático que relaciona a quantidade líquida para obtenção da bruta.

Calma, Pedro, não entendi! Explico a seguir: fator de correção nada mais é que um valor de uma divisão entre a quantidade bruta e a quantidade líquida. Segue a fórmula abaixo.

O gestor pode obter uma constante que o auxilia no cálculo preciso do custo da receita quando um consultor, padeiro, cozinheiro fornece uma quantidade líquida.

Infelizmente, não há maneira diferente de obter o fator de correção além de acompanhar o dia a dia do seu estabelecimento. Quando toco nesse assunto com clientes sempre dou o exemplo da cebola. Se uma receita pede um quilograma de cebola, devo pesá-las com cascas e colocar na composição? A resposta é geralmente não, devemos considerar inclusive o corte que vamos usar na receita. Afinal, cortes diferentes requerem partes e padronagem diferentes, mas esse é um papo para outro dia.

Vamos nos ater apenas ao fato de que, se limparmos a cebola e a processarmos teremos uma quantidade que será desprezada e isso causa diferença no ato de precificar. Tendo isso em vista, vamos ao exemplo.

Se precisamos de 100 gramas de cebolas para uma receita, então acompanhamos o manipulador durante o processo de preparar a cebola para a referida anteriormente. Partimos da seguinte conta; a nossa cebola tem peso bruto de 200 gramas e depois de manipulada obtemos 180 gramas de produto líquido. Vamos aplicar a fórmula!

Então obtemos um fator de 1,1. Agora apliquemos na nossa receita, lembre-se precisamos de 100 gramas de cebola produzirmos. Segue a fórmula:

Ou seja:

Desta forma, sabemos que quando contabilizarmos o valor do peso da receita, precisamos precificar sobre o peso de 110 gramas por conta da manipulação para obtermos o peso descrito nas instruções.

Passando a Limpo

Agora que conseguimos entender e encontrar o fator de correção, é preciso aplicar em uma ficha técnica para verificar se conseguimos entender os conceitos. Para auxiliar, vamos usar planilhas (não há a necessidade de ficar limitado a uma marca ou programa específico).

Vamos começar enumerando aquilo que deve conter na planilha, como demonstrado abaixo.

(utilizando como base a Receita do Bialy do chef Marcos Pickina)

Sempre começo identificando aquilo que será precificado e produzido. Logo após, passo para a identificação dos ingredientes e das quantidades necessárias para executar a receita.

E a partir daí as coisas começam a ficar interessantes, pois vamos acrescentar o fator de correção e calcular os parâmetros para as quantidades realmente necessárias no ato da precificação. Acompanhem:

Pela magia da edição de texto e planilhas com fórmulas pré-determinadas, vamos ver como isso influi na nossa fórmula, continuem observando:

Mas o que aconteceu? Como chegamos a esse resultado? Simples, fazemos a seguinte conta.

Super simples e eficaz, assim conseguimos trabalhar com um custeio real daquilo que devemos contemplar no preço final do produto, vamos observar como fica então aplicando valores.

E como chegamos a esse resultado?

Há mais alguns dados que podemos tirar da ficha técnica que são de suma importância, são eles o preço por quilograma e o preço por quilograma com correção de quebra. Vamos ver como encontramos esses dados.

Para finalizar o assunto vamos enumerar o final da ficha técnica:

Moral da história, devemos sempre nos atentar aos pequenos espaços que podem vir a causar perda e geralmente não são contabilizados, para isso estipulamos o fator de correção total. Essa ferramenta varia entre produtos e vai depender muito de como o controle é feito dentro do estabelecimento. O que importa é perceber que o preço por quilograma pode ser encarado em duas instâncias: uma sem o fator de correção total e outra aplicando tal fator para tentar prevenir uma subsequente quebra.

A partir do custo por quilograma podemos precificar com mais precisão e definir qual será a política aplicada pelo estabelecimento.

Fechando a Ficha

Desta forma, temos uma das maneiras de se precificar o produto, lembrando que essa é apenas a maneira que costumo utilizar para tratar os custos de insumos da produção. A imaginação e precisão daquilo que vai em uma ficha técnica não tem limite, com criatividade e bom uso da  interpretação numérica é possível computar desde a energia elétrica, gás a força motriz de receitas individualmente.

Gosto de enfatizar que pode haver outras formas de se atingir resultados similares, mas esta é a forma com que chego ao resultado que me agrada.

Como presente, vou disponibilizar a planilha já com as fórmulas para facilitar o exercício e a possível aplicação dela no modelo de negócios de quem quiser utilizar. Sobre os passos para o Bialy, deixo para o Padeiro Ikigai nos contar em uma outra oportunidade e agradeço a colaboração disponibilizando a fórmula para que pudesse usar como exemplo para o exercício.

Baixe a planilha aqui: Ficha Técnica – Massa Madre Blog

Gostaria de terminar o texto agradecendo ao espaço que me foi cedido pelo Marcos do Massa madre durante o ano. Foram quatro artigos que adorei compartilhar com os leitores do blog!

A todos um efusivo abraço e desejos positivos para o ano que vem a seguir.

Sobre o autor:
Pedro Marchi
Pedro Marchi é um profissional de panificação e confeitaria com formação pelo Centro Universitário Senac em Campos do Jordão, especializado na produção de levedos, pães e confeitos. Sua filosofia profissional destaca-se pela valorização das técnicas tradicionais e constante aprimoramento técnico nos campos da panificação e confeitaria. Com ampla experiência no setor gastronômico, atuou em hotéis e restaurantes no Vale do Paraíba Paulista e posteriormente em Campinas, onde se consolidou como docente importante. Lecionou no CEPROCAMP e no Instituto Gastronômico das Américas (IGA), e atualmente coordena a produção de panificação e confeitaria do grupo Galassi, consolidando sua expertise no mercado gastronômico.
Publique em suas redes sociais e marca a gente: #massamadreblog
Compartilhar
Por Massa Madre Blog
Por Diego Barcelos
Por Massa Madre Blog
Por Tiago Ishikawa

Publicidade

Headline

Never Miss A Story

Get our Weekly recap with the latest news, articles and resources.
Cookie policy
We use our own and third party cookies to allow us to understand how the site is used and to support our marketing campaigns.

Hot daily news right into your inbox.